Carlos Cezar Cantares Junior tem 27 anos e se formou em Farmácia Bioquímica pela Fundação Educacional de Fernandópolis. Veio para Fernandópolis ainda criança com a irmã Rita de Cássia e os pais, Carlos e Aparecida de Lourdes, que iniciaram um humilde comércio na cidade.
Carlinhos, como é conhecido, teve uma infância ótima, mas com alguns percalços que toda criança e adolescente passam pela imaturidade típica da época. “Por eu ter uma irmã especial, devido ao um derrame cerebral que ela sofreu quando tinha apenas 40 dias de vida, eu cresci, confesso, um pouco “revoltado”, pois sempre que eu queria algo, tinha que esperar. Meus pais sempre davam tudo que ela queria e eu sempre tive que esperar. Isso eu superei com tempo e hoje entendo a situação. Sou completamente louco e apaixonado pela minha irmã”, conta.
Com os pais sempre cobrando bons resultados, Carlinhos precisou se dedicar muito aos estudos. Estudou na Escola Coronel, depois no JAP, na EELAS e concluiu o ensino médio no antigo CEFAM, formando-se professor primário. Paralelo aos estudos, se dedicou ao teatro estudantil e também ao catolicismo, onde participou de grupos de jovens como o da Cohab Antonio Brandini, Vicentinos, Ejocri e pastoral da juventude. Com o início da vida acadêmica, precisou se distanciar um pouco destas atividades para trabalhar e bancar os estudos, uma vez que os pais não tinham condições de mantê-lo no curso de Farmácia.
Foi quando iniciou sua vida adulta trabalhando em um escritório de contabilidade. Logo conseguiu ingressar no Programa Escola da Família, onde o universitário trabalha aos finais de semana em troca de uma bolsa integral. “Foi um fase maravilhosa em minha vida, pois fiz grandes amizades e aprendi muitas coisas que hoje sinto que me transformaram em uma pessoa melhor. Foi através desta bolsa que consegui me formar”, explica.
Com o diploma na mão e a ansiedade na cabeça, sentiu que precisava correr contra o tempo e ingressar imediatamente no mercado de trabalho, angústia comum entre os recém-formados, principalmente, quando se encontram em uma região que o mercado está saturado e sem muitas perspectivas de trabalho. Participou de um processo seletivo de uma grande rede de farmácias na capital paulista, passou por todas as fases, mas desistiu. Carlinhos sempre gostou do interior, das amizades, das relações próximas – tudo que a “cidade que não para” não oferece aos meninos sonhadores do interior.
Todavia, as oportunidades de começo e recomeços só estavam começando. Sua avó materna, que vive em Guarantã do Norte-MT, veio para sua formatura e foi embora com muitas cópias de seu currículo na mala. Como toda santa e boa avó, distribuiu o documento pelas farmácias e laboratórios que conhecia, na tentativa de ajudar o neto. E, de certa forma, conseguiu. Talvez por um caminho tortuoso, mas que só trouxe amadurecimento e experiência para Carlos. Com uma proposta de emprego, foi embora para o Mato Grosso.
Enfrentou 28 horas de viagem após uma boa festa entre amigos e familiares para comemorar a nova fase e lamentar a despedida. “O caminho foi longo, chorei muito e pensei em desistir na metade do percurso, mas, como sou brasileiro e não costumo desistir de nada, continuei minha jornada”. Ao chegar à rodoviária, encontrou o primo que havia visto apenas duas vezes na infância, mas que se tornou seu melhor amigo e parceiro na nova fase. Foi apresentando pessoas e lugares maravilhosos que o primo tentou amenizar a saudade.
As promessas do novo emprego eram grandiosas e permitiam sonhar um pouco mais alto, quem sabe comprar um carro? O primeiro passo de todo jovem trabalhador. Porém, as promessas não passaram de palavras e Carlinhos de se viu em dívidas, morando na casa da avó. Por mais que ela não se importasse, ele queria independência.
Certo dia, um representante de medicamentos lhe informou que uma farmácia em Alta Floresta, também no Mato Grosso, precisava de um farmacêutico e perguntou se havia interesse de sua parte. “Claro que sim!”
O primo, fiel escudeiro, o acompanhou na viagem. “Fizemos uma viagem muito boa. A estrada era péssima, mas nos divertimos muito. Tivemos que atravessar o tão famoso rio Teles Pires, em cima de uma balsa. Quando cheguei, fiz a entrevista e fui contratado”.
Em Alta Floresta, Carlinhos conhecia apenas um casal de farmacêuticos que gentilmente ofereceu hospedagem por uma semana, até que ele conseguisse alugar um cantinho. E foi cantinho mesmo! Uma quitinete minúscula. “Lembro-me bem que, quando saí da casa dos meus pais, eu disse que viria para cá ganhar experiência e não dinheiro, então, comecei a trabalhar”.
A experiência com o teatro na adolescência trouxe os louros depois de adulto. Se destacando entre os funcionários pela desenvoltura ao se comunicar, passou a fazer comerciais de rádio e de TV para a farmácia. Logo recebeu outra proposta de emprego, agora em Matupá, próxima à cidade de sua avó. A saudade apertou, queria ficar mais perto de seus familiares e a proposta se tornou tentadora. Permaneceu em Matupá por dois anos. A saudade, agora dos pais, apertou mais um pouco, principalmente pela saúde do pai que passaria por uma cirurgia. “Eu tinha perdido um tio em Guarantã e, aí, comecei a me perguntar se realmente valia a pena estar tão longe da família que eu tanto amo. Estava decidido a voltar para Fernandópolis e procurar algo por lá”. E assim o fez. Passou dois meses ao lado da família em terra moça.
Em abril de 2011, regressou à Alta Floresta, para o antigo emprego. O patrão começou a deixar a farmácia de lado e Carlinhos viu uma ótima oportunidade de se tornar o dono do negócio. Comprou a farmácia, aguentou firme todos os problemas que surgiram, viu novas perspectivas, mudou de local, mergulhou. “O processo de mudança foi muito complicado, chorei muito de saudades da família, as dificuldades para chegar onde estou foram grandes, mas sempre confiei muito em Deus e ele sempre me fortaleceu”.
Quem também nunca o abandonou foi a namorada que, dando apoio e mostrando novos horizontes, foi peça fundamental para que o empreendimento desse certo.
Hoje, com planos de casório, vive mais tranquilamente, apesar das responsabilidades terem aumentado. Para visitar os pais, Carlinhos pretende vir em novembro em comemoração ao 30º aniversário da irmã. Já para morar, garante que isso não está nos planos. O futuro a Deus pertence, mas cabe a cada um de nós escolhermos os caminhos e que seja feita a vontade de Deus. A vida nos ensina tanto que às vezes me surpreendo. Ontem eu estava um pouco deprimido com muitas saudades dos meus amigos de verdade, que estão aí em Fernandópolis, e também da minha família. É por ela que eu tenho lutado muito. Por meus pais que sempre me apoiaram em tudo que eu quis fazer e pela minha irmã, que é a razão de toda a minha luta para vencer os obstáculos e superar os desafios”.