Para quem acha que ter algum tipo de deficiência é motivo de angústia, solidão e desespero, Camila Julieta Remedis, 20, e Júnior Luiz Alves Pezati, 23, ambos surdos, são as provas vivas de que isso não corresponde à verdade.
Neste sábado, eles realizam uma das etapas mais importantes da vida: o matrimônio. A ansiedade toma conta dos noivos. Às 10h eles casam no civil e às 19h no religioso.
A cerimônia será realizada no salão de festas da Meimei e será celebrada por um pastor e, ao lado dele, uma intérprete, pois além de Camila e Júnior haverá muitos outros amigos, que também possuem a mesma deficiência, e estarão presentes ao casamento.
Só entre os padrinhos haverá cinco surdos. São pessoas de São Paulo, São José do Rio Preto e Votuporanga, que vieram de longe para prestigiar o enlace matrimonial dos dois.
A escolha dos padrinhos, como sempre, foi feita a dedo. Segundo Júnior, eles procuraram escolher pessoas que de alguma forma os ajudaram ao longo desses anos.
Entre eles estará a professora de libras Mariângela de Lima, que veio de São Paulo especialmente para o casamento. Foi ela quem ensinou Júnior a falar a língua dos sinais quando ele tinha 15 anos.
Lembro-me quando conheci o Júnior e sua mãe Neide em uma festa que promovi em São Paulo para 4 mil surdos. Depois daquele encontro, dona Neide me disse que não teria mais receio de dizer que seu filho é surdo. Nunca me esqueço disso. Hoje vê-lo se casando é uma dádiva, disse Mariângela.
Para dona Neide, ver o filho tão animado organizando o casamento é motivo de muito orgulho. No começo, quando descobri que meu filho era surdo, ficava pensando, será que um dia ele vai namorar, casar. Hoje ele está se casando, acho que só vai cair a ficha quando ele não chegar mais em casa todo dia após o trabalho.
Camila e Júnior namoram há quatro anos, mas se conhecem desde a infância. Segundo Camila, o amor entre os dois surgiu quando ainda eram apenas crianças e moravam próximos.
Eu acabei me mudando para outra cidade e ficamos sem nos falar, mas quando retornei fui convidada pelo meu irmão, que era muito amigo dele, para ir à sua festa de aniversário. Conversamos muito durante a festa, uma semana depois ele foi ao meu trabalho me pedir em namoro. No outro dia já dei a resposta e começamos a namorar. A gente se ama demais, o amor que a gente tem ninguém tem, foi Deus quem nos escolheu um para o outro, afirmou Camila.
Júnior trabalha no depósito das Casas Pernambucanas e Camila é caixa das Casas Bahia. O plano deles era casar no ano passado, mas por falta de recursos tiveram que esperar mais um pouco. Esse ano eles decidiram que não dava mais para adiar e, enfim, marcaram a data do casamento.
O casal já está com a casa praticamente montada. Ganhou fogão, geladeira, televisão, cama, colchão, máquina de lavar roupas e até importâncias em dinheiro. Nenhum dos parentes e amigos quis ficar de fora da lista de presentes: todo mundo fez questão de contribuir para que o sonho se realize e que os noivos sejam muito felizes.