Eles fazem questão de caminhar na contra-mão da modernidade e da tecnologia: amam as antiguidades e preservam a memória de momentos que não voltam mais. Reginaldo Prado, Antônio Monteiro e José Lucheta são colecionadores de discos de vinil, livros, revistas, filmes e rádios antigos.
Reginaldo, que é professor de história e atuou por muitos anos como comunicador, possui cerca de 400 discos de vinil e aproximadamente 20 livros sobre o tema. Entre os vinis está a coleção Hits Brasil com os cantores: Fábio Júnior que era conhecido como Mark Davis Gessé que era chamado de Tony Stevens; The Fevers; Zé Carreiro e Carreirinho e outros nomes; as trilhas sonoras de novelas e filmes e uma variedade de títulos considerável.
Entre os livros estão publicações de grandes ídolos da comunicação, como Chacrinha, Flávio Cavalcanti e Sílvio Santos; Almanaque da TV, livros-novela, entre outros. Nessa época ninguém saía de casa enquanto não terminava a novela. O meu fascínio pela comunicação e pelas novelas era tanto, que eu queria ser autor de novela; mas depois comecei a observar que o final das novelas tinha que se submeter ao que o povo queria. Então vi que eles, autores, não eram tão livres e desisti, disse Prado.
Já Antônio de Assis Monteiro, um metalúrgico aposentado, nunca teve pretensões do gênero; porém, sua paixão se assemelha à de Reginaldo, já que adora colecionar revistas de novelas, filmes, discos de vinil e fitas de áudio.
Ele possui cerca de 700 discos de vinil; 250 filmes em VHS e 300 em DVD; 80 fitas de áudio, 500 revistas de novelas e alguns jornais antigos. Mas Antônio tem um diferencial com relação aos filmes antigos; ele não aceita pirataria, só compra produtos originais e traz tudo muito bem anotado em um caderno espiral.
Outro detalhe diz respeito à conservação: ele faz questão de que a capa esteja bem cuidada, e por isso, não empresta um único item de sua coleção - nem para o melhor amigo. Filmes de todos os gêneros e gostos podem ser encontrados no acervo particular de Monteiro.
Entre os discos é possível encontrar: Moacyr Franco, The Jet Black´s, marchinhas de carnaval como, por exemplo, Samba do Corinthians de 1969, composição de Manoel Ferreira e Gentil Junior; Transplante Corinthiano de M. Ferreira, Ruth Amaral e G. Júnior; entre outros.
Ultimamente, Antônio também se dedica a montar coletâneas das melhores músicas que estão em vinil para transferir para CD´s. Faço uma lista das melhores músicas, empresto meus vinis para um profissional que realiza esse trabalho de transferir as músicas de vinil para CD e depois passo horas ouvindo essas coletâneas, revelou Monteiro.
Já José Lucheta que é Oficial de Justiça também dedica horas do dia à sua grande paixão: rádios antigos. Ele começou a colecioná-los quando tinha aproximadamente 20 anos e nunca mais parou. Ao todo, são mais de 70 rádios de diferentes marcas, modelos e formatos.
Rádios antigos como RCA Victor, Semp, Transglobe, sejam movidos à válvula, à energia solar, à pilha. Os formatos podem ser diversos, como em forma de caneta, de relógio e coisas assim. Todos os aparelhos foram adquiridos por doações ou por baixo custo.
O rádio já foi tão importante que, antigamente, para saber o poder aquisitivo de uma pessoa se perguntava quantos rádios a pessoa tinha na casa. Com o rádio era possível fazer cursos, minha mãe e meu tio fizeram cursos pelo rádio. Por ele se assistia às novelas e também se rezava, afirmou o oficial, que na infância e adolescência viveu na pequena Piquerobi, na região de Presidente Prudente.
Hoje Lucheta também possui rádios mais modernos, como os digitais, mas sua grande paixão é mesmo voltada aos aparelhos mais antigos. Quanto à programação preferida, em primeiro lugar vêm a música - MPB ou qualquer outro estilo que possua qualidade. Ele não gosta do sertanejo: Só se for de raiz, ressalva. Em segundo lugar vêm os noticiários.
A paixão de Lucheta pelo rádio também já tomou conta dos filhos. Durante a entrevista, ele fez questão de chamar sua filha Júlia, de nove anos - para perguntar se ela gostava de rádios. Timidamente e constrangida disse não saber. Então Lucheta lhe perguntou: Qual a primeira coisa que você faz quando entra no carro? Júlia disse: ligar o rádio. E qual a última coisa que faz ao sair do carro? Ela respondeu: desligar o rádio. Novamente o pai perguntou à filha: E quanto ao seu irmão (Rafael de quatro anos)? Júlia disse: também faz a mesma coisa.
No final da entrevista, Júlia não só se deu conta de que a grande paixão do pai já tinha tomado conta da sua vida, como fez questão de posar para foto ao seu lado com um rádio nas mãos.