Crônica: Comer e coçar – Por Eliana Jacob Almeida

20 de Agosto de 2025

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Crônica: Comer e coçar – Por Eliana Jacob Almeida

O mundo dá voltas. Tudo que sobe, desce. Nada como um dia atrás do outro. Desde criança sinto uma certa fascinação por provérbios, pois para mim eles encerram verdades incontestáveis. Alguma pessoa duvida, por exemplo, de que “Quem semeia vento colhe tempestade” ou de que “O cão é o melhor amigo do homem”?

Quando era pequena e os mais velhos me passavam para trás nos jogos, gostava de pensar “Quem rouba, perde”, e se perdia na real, consolava-me com “O importante é competir”.

Se me sentia escanteada pelas amigas, logo mandava “Quem cochicha o rabo espicha”, mas quando alguém me dizia isso, depressa rebatia: “Quem escuta o rabo encurta”.

Na escola, quando tentava me livrar logo de uma tarefa, a professora dizia: “A pressa é inimiga da perfeição”, e se as colegas debochavam dos meus dentes desalinhados, consolava-me pensando que iria colocar um aparelho, teria um sorriso lindo, e aí, já viram, “Quem ri por último ri melhor”.

Minha mãe nos educou orquestrando vários provérbios. Quando estávamos sem apetite, afirmava: “Comer e coçar só depende de começar”. Se perdíamos alguma coisa, “Quem procura, acha”. Quanto às minhas amizades, repetia: “Dize-me com quem andas que eu te direi quem és”. Na dúvida quanto a namorado, “Antes só que mal acompanhada.” Se me decepcionava com alguém, declarava: “Quem vê cara não vê coração.”

Na igreja, o padre aconselhava: “Faça o bem sem ver a quem” e, diante de um mistério: “Deus sabe o que faz”.

Aí entrei na faculdade, tratei de me dedicar, pois todos sabem: “Deus ajuda quem cedo madruga”. Formada, tive medo de não arrumar emprego, mas graças a Deus: “O sol nasce para todos”.

Hoje, quando estou triste, lembro-me: “Quem canta seus males espanta” e começo logo uma melodia. Se hesito em dar um conselho a uma pessoa querida, convenço-me: “Quem avisa amigo é”. Em uma situação de risco, pondero: “Mais vale um pássaro na mão do que dois voando”. Se me vejo prejudicada de algum modo: ”Aqui se faz, aqui se paga”.

Agora, diante do computador, queria escrever esta crônica e não encontrava inspiração. Não posso reclamar, ela está saindo, “comer e coçar...” Só não estou conseguindo encontrar um fim legal. Sei que “A noite é uma criança”, mas já estou cansada, e, daqui a pouco, o leitor também, afinal, “Paciência tem limite”. Na dúvida, melhor não falar muito: “Em boca fechada não entra moscas”. Acho que vou parando por aqui, “Dos males, o menor”.