Pode ser que daqui uns dias eu escreva uma crônica com a frase do filósofo Thomas Morus “Nenhum homem é uma ilha”, mostrando o quanto dependemos do outro para vivermos em sociedade . Mas o sentimento que quero descrever hoje chama-se solidão; tenho observado a condição humana e, não dá para escapar: no íntimo “Todo homem é uma ilha”.
Crescemos, nos tornarmos adultos e, na maturidade, apesar de perdermos aos poucos a visão, traiçoeiramente, passamos a enxergar mais. Vejo com nitidez as inúmeras situações que atravessamos sozinhos.
Nos nossos medos, sofremos mudos. Nas nossas dores, quem pode nos ajudar? E nas nossas fraquezas, o que será de nós? Não conhecemos o outro que está ao nosso lado. Não nos conhecemos; nossas emoções mudam todos os dias: hoje, eufóricos, otimistas; amanhã, acanhados, tristes. Estamos sós no egoísmo, na pequenez, no vício.
Nos estudos, quando prestamos um vestibular ou fazemos uma prova de concurso, guiados pelas nossas escolhas, caminhamos completamente sós. O nosso cansaço é único e as nossas esperanças, nossa fé ninguém compartilha.
Em casa, cada um ilhado em seu quarto. Na hora da refeição, cada um olhando para seu celular. Mesmo na sala, vendo televisão – a primeira tela – cada um divide o olhar com o que tem nas mãos: tablete, iphone, notebook – a segunda tela. Cada um em seu mundo. E naqueles momentos em que ficamos sozinhos frente ao espelho: nós e nossa aparência, nossa essência, nossa consciência, sem nenhuma máscara?
Quem nos acompanha na doença, na dor de dente, numa cama de hospital? Uma mulher, na hora do parto, está irremediavelmente só; não pode adiar aquele momento, não adianta pedir que alguém vá em seu lugar. Sozinha enfrenta o momento seguinte.
Não adianta! Por mais que estejamos cercados de gente querida, estamos sozinhos em nossas frustrações, decepções. Nossos limites? Sozinhos temos que superá-los. Quantas vezes nos vimos com um bebê no colo, que desandou a chorar pela madrugada e ali sozinhas estávamos? E nas nossas cólicas mensais? Em no nosso descontrole quando atacadas pela TPM?
É triste envelhecer na solidão. Sentimos isso porque nos esquecemos de que em nossa trajetória, podemos até ir de mãos dadas com alguém. Mas no fundo, no fundo sabemos que durante toda vida, solitariamente, cada um traça seu caminho e vai só.