Crônica: A melhor escolha - Por Eliana Jacob Almeida

20 de Agosto de 2025

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Crônica: A melhor escolha - Por Eliana Jacob Almeida

Voltei a ler “Trem noturno para Lisboa”, de Pascal Mercier. Comecei a lê-lo há algum tempo, mas por se tratar de um romance inquietante, de linha filosófica, mexeu muito comigo; acabei desistindo. Conta a história de um professor de línguas clássicas em Berna, na Suíça, que, certo dia, depois de 42 anos no mesmo colégio - como aluno e, depois, como professor - resolve dar outro rumo a sua vida e parte no trem noturno para Lisboa.

Um trecho em especial me chamou a atenção: ao mencionar a infância do professor, o narrador conta que, em uma manhã, o menino vai à aula, mas foge pela janela e rouba um maço de dinheiro em uma barraca de feira. Desejava realizar o sonho da pobre mãe doente: ver o mar. Quando volta à escola, se arrepende, retorna à feira e coloca o dinheiro onde o encontrou. Na fase adulta, esse personagem se pergunta o que teria acontecido, se ele tivesse permitido que seu lado delinquente assumisse o controle de sua vida. Questiona: “Se é verdade que podemos viver apenas uma pequena parte daquilo que há dentro de nós, o que acontece com todo o resto?”

Fiquei pensando nisso. Todos os dias, enfrentamos dilemas, temos que fazer escolhas: o que queremos ser? que caminho seguir? que atitude tomar? Essas escolhas estão relacionadas à questão ética; de alguma forma, o que fazemos afeta as pessoas com as quais convivemos.

Ao chegarmos à metade do caminho - como o professor da obra citada - é inevitável olharmos para trás para avaliarmos a trajetória percorrida. Importa saber se deixamos o nosso lado mais humano, mais honesto, mais sensível nos guiar. Sim, porque como afirma Fernando Pessoa: “Na vasta colônia do nosso ser há gente de muitas espécies, pensando e sentindo diferentemente” (Livro do Desassossego). Convivem dentro de nós o adulto, a criança, o forte, o fraco, o generoso, o egoísta, o violento, o manso, o honesto, o hipócrita.

O Natal se aproxima, época que nos entregamos às reflexões e às promessas para o próximo ano. Estamos vivos e estaremos sempre expostos às tentações, sujeitos a deixar que nosso lado mais obscuro nos domine. Não podemos abandonar a luta para que a nossa porção melhor vença a cada passo. Para isso trabalhamos, oramos, estudamos, seguimos os bons exemplos.

Que o Menino Jesus renasça em nós e nos ajude, em cada encruzilhada, a fazer a melhor escolha.