A confirmação do primeiro caso de leishmaniose visceral em humano em Fernandópolis levou a Secretaria da Saúde a anunciar medidas para agilizar o diagnóstico da doença. Entre as medidas, o treinamento para médicos e profissionais da saúde além de adoção do teste rápido para detecção da doença.
O caso de leishmaniose em humano foi confirmado na véspera do feriado, 14, mas só divulgado na segunda-feira, 19. Uma menina de 1 ano e 4 meses, moradora do bairro Vila Veneto foi diagnosticada com a doença. Durante o feriado e final de semana, chegou-se a promover uma campanha para doação de sangue nas redes sociais.
De acordo com o médico infectologista do Cadip – Centro de Atendimento a Doenças Infectoparasitárias -, Márcio Gaggini, a criança já teve alta logo no início da semana e agora passa a ter acompanhamento ambulatorial pelo Cadip. “O quadro está estabilizado. No inicio a criança será acompanhada semanalmente, depois mensalmente, com exames para ver como está evoluindo em relação a anemia, plaquetas e a função hepática. Esse acompanhamento é um pouco mais prolongado, mas como a criança não tinha nenhuma outra doença associada, a evolução é melhor”, explicou o médico.
A partir da confirmação do caso, houve também intervenção do CCZ – Centro de Controle de Zoonoses - e Sucen – Superintendência de Controle de Endemias - em duas frentes: promover uma varredura para identificar o possível foco de contaminação.
Essa ação abrange três bairros da cidade: Vila Veneto (local de moradia da criança), Coester e Caic (onde moram os avós). Em um raio de 25 quadras ao redor dos imóveis, são realizados exames em cães para detecção da doença, enquanto a Sucen instalou armadilhas para captura do mosquito palha que transmite a doença para o cão e para o ser humano. O objetivo é identificar se há mosquito contaminado na área. Em outra ação, a Sucen também realiza a pulverização para reduzir a população do mosquito palha.
De acordo com o Veterinário da CCZ, Mileno Tonissi, nos exames realizados em animais até agora, não foi constatado nenhum resultado positivo. Há possibilidade da criança também ter sido contaminada em uma viagem com a família. “A chance é pequena, mas não se pode descartar”, disse Mileno.
Os bairros que mais preocupam em Fernandópolis em relação à doença são os limítrofes a ferrovia onde foram registrados maior quantidades de cães contaminados em exames anteriores. Por enquanto, segundo a CCZ, não houve registro de contaminação de gatos.
Tonissi alertou a população que o mosquito palha procria em matéria orgânica (folhas, restos de alimentos) e em galinheiros.
ALERTA
O médico do Cadip, Márcio Gaggini disse que já era esperado aparecer casos em humanos em Fernandópolis. “Já estávamos com a Vigilância ativa, porque havia registro de casos em cidades da região, como Urânia, Jales e Votuporanga. Em Fernandópolis, era questão de tempo, pois temos o mosquito transmissor e animais contaminados”, comentou o médico.
Com a confirmação do primeiro caso, já foram adotadas medidas. Na semana que vem a Secretaria Municipal de Saúde vai promover um treinamento sobre a leishmaniose para médicos e profissionais de saúde. “Essa doença tem que estar na base de diagnóstico dos médicos na cidade, para agilizar o tratamento”, explicou Gaggini.
Além disso, o médico anunciou que em poucos dias também será adotado o teste rápido para leishmaniose em humanos diante de casos suspeitos. Os testes serão aplicados na Santa Casa e no Cadip. Nas redes sociais, fernandopolenses indicaram que seria adequado também ter o teste rápido na UPA – Unidade de Pronto Atendimento -, porta de entrada das emergências na cidade.
Para o médico, o sucesso no tratamento da leishmaniose em humanos está ligada diretamente a rapidez do diagnóstico.
Em outra frente, o secretário da Saúde Flávio Ferreira já determinou ao Centro de Controle de Zoonoses a realização do inquérito canino na cidade. De acordo com Mileno Tonissi, as medidas estão em andamento e até o final do ano esse inquérito deve ser realizado, o que permitirá se ter um quadro real do número de animais na cidade e controle de zoonoses. Atualmente estima-se em cerca de 16 mil o número de cães em Fernandópolis.
EUTANÁSIA
Se para o humano há cura para a leishmaniose, embora na região tenham ocorridos óbitos de pessoas pela doença, nos cães a recomendação do Ministério da Saúde é para a eutanásia dos animais contaminados. Só este ano, segundo Tonissi da CCZ, foram sacrificados 24 cães com a doença. Esse número pode ser superior a 300 na cidade desde que a doença apareceu.
O veterinário reclamou das redes sociais que apontam o Centro de Zoonoses como centro de matança de animais. “Não é isso. Eu estudei veterinária exatamente por amar os animais. Isso mexe com o nosso psicológico. O problema é que é uma questão de saúde pública. A doença não tem cura para os cães e o protocolo indicado pelo Ministério da Saúde é a eutanásia. Se o dono de um animal contaminado não aceitar, ele pode ficar com o animal, mas assinará um termo de responsabilidade”, adiantou Mileno. Segundo ele, já houve caso de moradores que impediram o sacrifício do animal quando o exame deu positivo e, depois, quando a doença começou a se manifestar nos animais, procuraram o Centro de Zoonoses.