“Pensei que escaparia de um infarto e iria acabar morrendo queimada”, diz paciente sobre incêndio na Santa Casa

20 de Agosto de 2025

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“Pensei que escaparia de um infarto e iria acabar morrendo queimada”, diz paciente sobre incêndio na Santa Casa

O incêndio que tomou conta da sala de diagnósticos por imagem, da Santa Casa de Fernandópolis, no último dia 2, ficará gravado para sempre na história do hospital, mas para os 44 pacientes que estavam internados naquele dia, as lembranças permaneceram vivas para sempre. Pelo menos é o que garante Sirlei dos Santos, de 58 anos, que disse ter renascido.

Dona Sirlei foi internada a 1h10 do primeiro dia de 2016. Ela tinha acabado de sofrer um infarto e depois de receber atendimento no Pronto Socorro e ser estabilizada pela equipe médica, foi internada na UTI – Unidade de Terapia Intensiva – enquanto se recuperava.

No entanto, quando ela pensava que o pior já tinha passado, o cheiro forte de fumaça tomou conta do ambiente e o silêncio do hospital quebrado apenas pelos bips dos equipamentos, deu lugar aos gritos de desespero e à correria incessante dos colaboradores da entidade.

“Na UTI estávamos eu e mais dois senhorzinhos, mas acho que a única que estava lúcida era eu. Lembro-me  que um dos senhores que estavam lá comigo tinha falecido e a equipe da UTI estava tentando reanimar ele, quando chegou uma moça e um bombeiro correndo no quarto e falaram que tinham que transferir a gente correndo porque o hospital estava pegando fogo. Claro que fiquei desesperada. Pensei que iria escapar de um infarto e acabar morrendo queimada”, contou.

Ainda segundo Sirlei, mesmo visivelmente apavorados, os profissionais da Santa Casa se organizaram rapidamente e colocaram em prática o plano de transferir os pacientes para um local seguro, muitos deles deixando de se preocupar consigo para cuidar dos pacientes.

“Nunca vou me esquecer dessa cena. É claro que estavam todos desesperados, afinal tinha fumaça para todo lado e quem não tem medo de morrer? Porém, eles colocaram a cabeça no lugar, vestiram máscaras e começaram a distribuir máscaras para os pacientes para nos transferir para um lugar seguro. A reação natural do ser humano seria sair correndo dali para se salvar, mas eles só pensavam em como iriam nos tirar dali em segurança”, completou.

Sirlei foi a primeira paciente a ser transferida para a ala de número II, que foi improvisada como UTI até que a situação fosse controlada.

“Lembro que duas enfermeiras é que me levaram para lá. Quando saímos para o corredor tudo parecia escuro e o cheiro de fumaça era muito forte e eles pediram para a gente respirar pela boca e não pelo nariz. Não deu para ver muita coisa, apenas a correria de todo mundo”, disse.

Depois do susto, Sirlei seguiu na UTI improvisada sob observação, até que foi transferida no dia seguinte para um quarto normal e posteriormente recebeu alta médica.

SOLIDARIEDADE

A remoção dos pacientes com segurança só foi possível graças a solidariedade dos fernandopolenses. Assim que souberam do incêndio, médicos, enfermeiros, colaboradores de diversos setores que estavam de folga ou férias e até populares se deslocaram para o hospital para colaborar da forma que pudessem.

A médica Eva Maria Franciscon foi uma dessas pessoas. Ela estava em casa quando recebeu uma mensagem no celular com a notícia e correu para o local.

“Foi muito lindo ver que assim que os colaboradores da Santa Casa ficaram sabendo do que estava acontecendo, muitos, que estavam até de férias ou folga, correram para lá colocaram a mão na massa para tentar ajudar. Isso me lembrou o dia em que tombou um ônibus aqui em Fernandópolis, isso há uns dez anos, todo mundo correu lá para o hospital para ajudar a socorrer a salvar aquelas vidas”, lembrou Eva.

Ainda de acordo com a médica, parecia que naquele instante ninguém se lembrava de pagamentos atrasados ou reclamações.

“Parece que está no sangue de quem trabalha na área da saúde. Ali o mais importante era garantir a vida e a saúde de todos. Ninguém se lembrava de salários atrasados ou de qualquer outro tipo de reclamação, a única coisa que importava eram aquelas vidas que estavam ali”, completou. 

Além dos médicos e colaboradores do hospital, a solidariedade da população também chamou atenção. Dezenas de pessoas que passavam pelo local se juntaram a equipe médica no resgate aos pacientes. Ninguém se feriu. Apenas um porteiro da entidade teve que ser internado após inalar a fumaça, mas nada grave e no dia seguinte ele já foi liberado.   

PREJUÍZO

Em entrevista a Rádio Difusora AM, na manhã de segunda-feira, 4, a provedora da Santa Casa de Fernandópolis, Sandra Regina de Godoy, afirmou que em uma análise preliminar dos danos causados pelo incêndio que acometeu a instituição, apurou-se que o prejuízo pode passar de R$ 1 milhão.

De acordo com a responsável pelo único hospital público fernandopolense, o fogo destruiu os equipamentos de digitalização, impressão e dispositivos de outras salas, devido à alta temperatura e fuligem derivada da fumaça.

“Quero aproveitar para pedir paciência a toda população de Fernandópolis e região, pois em decorrência disso, nossos serviços de diagnósticos por imagem ficaram prejudicados e levaremos um tempo para solucionar essa questão. Para alguns casos temos aparelhos portáteis que estão sendo utilizados aqui e revelados no Hospital das clínicas, os exames mais complexos estamos encaminhando para o CDI e outros centros, porém já estamos tomando todas as providências para sanar mais esse problema o mais rápido possível”, destacou a provedora.

Ainda segundo Sandra Godoy, após o controle do princípio de incêndio e da limpeza da estrutura física, o Pronto Socorro da Santa Casa de Fernandópolis, que precisou ser interditado e foi improvisado na UBS do Pôr do Sol, voltou a operar dentro da normalidade.

“Graças à atuação conjunta de nossos colaboradores, médicos, bombeiros e voluntários, foi possível contornar o incidente sem o registro de vítimas. As causas do incêndio serão divulgadas após o laudo pericial. Aproveitamos para reiterar nosso agradecimento aos colaboradores, médicos, alunos de cursos de saúde, voluntários, ao Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Secretaria Municipal de Saúde e todos que contribuíram neste momento tão delicado”, completou.

A UTI - Unidade de Terapia Intensiva -, localizada no piso superior ao foco do incêndio, também voltou às suas atividades normais.

SUGESTÃO

Após a participação da provedora na emissora de rádio, o empresário Luiz Claudio Barros, proprietário de um posto de combustíveis em Fernandópolis, ligou para os estúdios da Difusora com uma sugestão para tentar contornar o problema.

Fora do ar, ele sugeriu que a entidade lançasse um “livro de ouro” para que os empresários possam colaborar da forma que puderem com a Santa Casa.

“Sabemos que a crise pegou todo mundo, mas essa é uma situação extrema onde todos têm que se mobilizar. Serei o primeiro a doar, caso o livro seja lançado e tenho certeza que muitos de meus colegas empresários também se sensibilizarão”, concluiu Barros.