Conforme destacado em nossa edição anterior, André Luís Padilha fica acorrentado desde os 15 anos, quando passou a se agredir frequentemente e veementemente, principalmente na região lateral da cabeça, deixando-o com as orelhas totalmente deformadas pelas pancadas. Embora não seja agressivo com as outras pessoas, o rapaz ainda se morde e, vez ou outra, apresenta crises que o fazem se debater com ainda mais voracidade.
Sem saber o que fazer e como forma de conter as agressões gratuitas a si próprio, a mãe se viu num beco sem saída e adaptou algumas correntes de metal para manter as mãos de André amarradas junto a uma cadeira. Com atenção integral dedicada ao filho, Mariza também fica aprisionada de certa forma, já que deixá-lo só por alguns segundos pode representar um prejuízo ainda maior em caso de uma crise que o faça bater a cabeça contra parede.
Como o filho já foi tratado em duas clínicas, em Paranaíba-MS e Araras, sem melhoras, e acompanhado pela equipe do CAPS – Centro de Atenção Psicossocial-, a mãe sonha em dar uma vida mais digna ao filho, crendo que a visibilidade de um programa de televisão em rede nacional possa proporcionar um atendimento mais aprofundado do caso do filho, libertando-o das correntes. A equipe do CIDADÃO enviou o vídeo feito por Mariza, pedindo apelo ao Programa do Ratinho, do SBT, e enviou a sua produção, que prometeu analisar.
No entanto, o que dizem os profissionais da saúde do município que conhecem o caso de André não é nada animador. “Ele foi diagnosticado em 2010 com autismo infantil e seu quadro tem pouca evolução, também pelo fato de ter sido diagnosticado tarde. De acordo com a mãe, a agitação e a dificuldade para dormir têm melhorado, mas ele mantém as agressões e precisa ser contido para evitar os ferimentos que ele mesmo provoca”, explicou a psicóloga do Caps, Paula Bozatto Gabriel, que confirmou o último atendimento no dia 14 de agosto.
A psicóloga afirmou ainda que quatro medicamentos são entregues mensalmente à mãe do rapaz, que tem a responsabilidade de administrar – são oito comprimidos por dia. Segundo ela, se houvesse queixas sobre qualquer agravamento da patologia de André, caberia ao médico responsável reavaliar a prescrição, o que não é o caso.
A convite da equipe de reportagem de CIDADÃO, a secretária de Saúde, Lígia Barreto, visitou o rapaz autista para conhecer de perto o que mãe e filho vinham passando e embora, de fato, não exista uma solução para o problema a não ser sedá-lo, o que também não traria dignidade alguma a ele, Lígia prometeu uma reunião com os profissionais da saúde para encontrar qualquer maneira de pelo menos melhorar a vida de André. “Sedá-lo realmente faria com que ele não conseguisse se agredir, mas também não seria digno ficar deitado o dia todo, podendo trazer novas enfermidades. Vamos fazer uma reunião com a equipe, com o Dr. Alex (Garcia Sakata) e ver o que podemos fazer parta melhorar a vida dele. A mãe já relatou que ele estragou uma contenção feita com couro e por isso precisamos pensar em uma nova forma de contenção, que não o machuque tanto como as correntes, dando uma melhor condição e vida a ele. Vou pedir para o médico rever o medicamento e acompanhá-lo mais de perto, embora mensalmente ele seja visitado pela sua unidade responsável”, disse Lígia.
Contudo, mesmo com os oito comprimidos diários, Marisa tem certo receio em administrar os remédios, que segundo ela não fazem efeito algum. “Em dias de crise, o remédio não faz efeito algum. Está apenas acabando com ele por dentro. Por isso eu queria alguém que apontasse ao certo o que ele tem e conseguir um remédio específico que faça-o parar de se bater. Tentei uma vez e não consegui que fizessem um exame de estômago dele para saber se está tudo bem, pois faz 12 anos que ele toma esses comprimidos. Como ele não fala, às vezes coloca a mão na garganta, indicando que está doendo algo”, relatou a mãe.