ANS quer derrubar rótulo brasileiro de campeão mundial em cesáreas

Obstetra fernandopolense, Morisa Martins Leão Carvalho, diz que incentiva parto normal desde a primeira consulta

20 de Agosto de 2025

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ANS quer derrubar rótulo brasileiro de campeão mundial em cesáreas

Nesta semana o alto número de partos por cesarianas voltou à tona no cenário nacional. Isso porque o ministro da Saúde, Arthur Chioro, anunciou em coletiva na terça-feira, 14, que será colocada em consulta pública algumas sugestões para tentar diminuir o número de partos por meio da cirurgia. A ANS – Agência Nacional de Saúde vai propor que os hospitais divulguem os índices de parto normal e de cesariana para as consumidoras de plano de saúde que solicitarem. Elas devem poder pedir essa informação por estabelecimento de saúde e por médico, não importa se estejam grávidas ou não.

Outra proposta, que também entrará em consulta pública, prevê que os hospitais tenham de apresentar um documento chamado partograma depois de cada parto. O documento deve trazer informações sobre o desenvolvimento do trabalho de parto e das condições maternas e fetais ao longo do procedimento.

Os planos de saúde devem distribuir, ainda, o "Cartão da Gestante" e a "Carta de Informação à Gestante".  No "Cartão da Gestante", serão registradas as consultas de pré-natal, com orientações e dados de acompanhamento da gestação.

As medidas serão colocadas em consulta nos dias 23 e 24. O ministro da Saúde citou que 84% dos partos realizados na rede privada são cesarianas e que o procedimento, quando não tem indicação, pode trazer riscos desnecessários para a saúde da mãe e do bebê. Segundo Chioro, o ideal seria que apenas 15% dos partos fossem cirúrgicos. "No Brasil, o que nós deveríamos ter de procedimentos de parto normal, nós temos de partos cesáreos. Precisamos inverter essa situação", diz Chioro.

Os valores pagos pelos planos de saúde aos hospitais pelo parto normal e pela cesariana são parecidos. De acordo com a CBHPM  - Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos, o valor de referência do parto normal é de R$ 574 e o da cesariana é de R$ 541. Apesar de o parto normal ter um valor um pouco mais alto, o procedimento pode levar até 12 horas, enquanto a cesárea leva, em média, 3 horas. Por esse motivo, muitas vezes a cesariana é considerada um procedimento mais vantajoso para a instituição e para o profissional.

A obstetra e ginecologista fernandopolense Dr.Morisa Martins Leão Carvalho que realiza partos há 19 anos e atualmente atua na área de gestação e alto risco no Centro de Apoio à Saúde da Mulher, afirma que sempre incentiva o parto normal desde a primeira consulta. “Depende do que a gestante deseja se for uma gestante de baixo risco indico o parto normal. Se for gestante de alto risco procuro incentivar para entrarem em trabalho parto, mas esclareço que se houver alguma intercorrência ,onde haja risco para o feto ou para a mãe ,o procedimento indicado será a cesariana”, contou.
Para ela, a “epidemia de cesarianas” no Brasil se dá pela rapidez que é realizada a cesariana em comparação ao parto normal. “Enquanto uma cesariana pode ser feita em 40 minutos o trabalho de parto pode demorar até 12 horas  para o nascimento do bebe. Existem outros fatores como por exemplo; falta de enfermeira obstetras para acompanhar o trabalho de parto ,também  a falta de programas educativos em todas as unidades básicas para incentivar  o parto normal desde a primeira consulta. A falta do anestesista  no centro obstétrico para que sejam realizada as analgesias para o parto indolor. A baixa remuneração dos médicos e enfermeiros para que estes sejam estimulados a incentivarem e acompanharem o trabalho  de parto  e a realização do parto normal. A ansiedade  da gestante  e dos familiares no final , o medo da dor, dentre outros. Enfim, são fatores econômicos,  estruturais, educacionais e culturais para que esse quadro no Brasil seja revertido”, explicou.


A médica elencou os principais benefícios para a saúde da mulher que opta pelo parto normal. “É menor risco de infecção, a recuperação é mais rápida, favorece a produção de leite materno, estreita os laços sentimentais com o bebê, menor tempo de internamento hospitalar, melhor recuperação no pós-parto, dentre outras.

Por fim, a médica desmentiu um mito popular de que uma mulher que teve seu primeiro filho com a cesariana não pode optar pelo parto normal na próxima gravidez. “Isso é um mito. Mesmo apos ter tido uma cesariana ela pode ter um parto normal desde que seja respeitado o período correto para outra gestação e que não haja contra indicações, que será avaliado pelo obstetra na hora do parto.

O também obstetra de Fernandópolis Marcelo Bortoleto, que atende há 16 anos, e atualmente realiza partos apenas por convênios e particulares, lembra que o fator financeiro também influencia. “O SUS preconiza o parto normal por ser mais vantajoso. A mãe fica menos tempo internada, o gasto é menor. O estado é esperto por isso estimula”, opinou.

Embora realize 99% dos partos por cesariana, Bortoleto destacou que não é favor de deixar a mulher sofrendo, sem evolução até o momento do parto para realmente ver se ele conseguirá dar à luz pelo parto normal, mas que, no entanto, também é favor da forma pura de vir ao mundo. “Não incentivo à cesariana, mas hoje em dia as pessoas não querem sentir dor. Quem paga procura este procedimento e escolhe o médico, já pelo SUS não é possível”, ponderou.