Voluntários da luta contra o câncer enfrentam também jogo de interesse político nem sempre visível
Poucos meses depois da paralisação das atividades de seu hospital, por falta de recursos, a Associação de Voluntários no Combate ao Câncer (AVCC) de Fernandópolis continua na busca pela definição do melhor caminho.
Criada e mantida pelo trabalho do voluntariado e com a colaboração da sociedade, a entidade teve até mesmo que lutar contra o descaso oficial: descumprindo lei aprovada pela Câmara de Vereadores, o prefeito de Fernandópolis não repassava com regularidade a verba anual prevista para a AVCC, o que ensejou até a ação do Procurador da República em Jales, Thiago Lacerda Nobre, do Ministério Público Federal.
Agora, o presidente Adenilton Luis Fernandes e seus diretores têm três opções pela frente: a) entregar o patrimônio da entidade para o município; b) quitar a dívida trabalhista com os médicos de uma única vez e entregá-la para o Hospital Pio XII, de Barretos, que só aceitaria o repasse nessas condições; e c) retomar os serviços ambulatoriais paulatinamente, contratando um médico, uma enfermeira, uma farmacêutica e equipe administrativa (financeiro e contabilidade).
Fechada, a AVCC custa de dez a 15 mil reais por mês. A dívida trabalhista com os médicos foi parcelada, o que significa que a entidade não tem como obter certidão negativa da Justiça do Trabalho, condição imposta pelo presidente da Fundação Pio XII, Henrique Prata.
Adenilton e Carlos Lima, que é voluntário da entidade, pensam em negociar esse detalhe com Prata, que está na Europa e só deve retornar ao Brasil neste domingo, 15.
HOME CARE
Segundo Adenilton, a AVCC quer conhecer a opinião pública sobre essas alternativas para a entidade. Ele conta que a entidade precisará ter em mãos os R$ 90 mil restantes da verba da prefeitura, ainda de 2012, que não haviam sido pagos até a última quarta-feira, 11, dia da entrevista. “Só assim poderemos fazer uma proposta para os médicos que seja mais vantajosa para a entidade”, disse.
No dia seguinte, no final da tarde, a prefeitura efetuou o repasse dos R$ 90 mil.
O presidente quer retomar o serviço home care (atendimento em casa) que tinha de 60 a 90 pacientes: “Esses doentes estão jogados às traças por causa de uma política dura de compreender”, afirmou.
Adenilton também pretende ouvir o voluntariado: “Sabemos que eles, os voluntários, são o nosso maior patrimônio. E gostaria que os políticos entendessem a importância da AVCC para a sociedade, porque o câncer não escolhe porta para bater. Não entendo como uma entidade apolítica pode ser alvo de jogo político”, lamentou.
“Cerca de 60 pacientes tendidos pelo home care, apoio alimentar a centenas de lares e inúmeros atendimentos ambulatoriais. Assim é a realidade da AVCC de Fernandópolis, definiu o voluntário Carlos Lima diante da pergunta da reportagem.
Abaixo, a relação completa das atividades, serviços e equipamentos da associação:
- Atendimento ambulatorial, Serviço de Auxílio Diagnóstico e terapia (SADT) e internação;
- Leitos para clínicas especializadas equipadas com bombas de infusão 15 + 03 de observação e dois apartamentos – total 20 leitos;
- 1 consultório de Odontologia;
- 1 consultório de Psicologia;
- 1 consultório de Assistente Social;
- 1 centro cirúrgico equipado com carro anestésico, bisturi elétrico, monitores, desfibrilador, aspiradores, monitores de ECG, reanimador plmonar, respirador e materiais cirúrgicos;
- 1 sala para curativos;
- 2 postos de enfermagem;
- 1 sala de observação;
- refeitório equipado com cozinha industrial;
- serviço de quimioterapia com 5 lugares;
- serviços de farmácia, nutrição e dietética, lavanderia, SAME (arquivos de prontuários) e serviço social;
- serviço de atendimento domiciliar (home care);
- serviço de diagnóstico de imagem: RX, Ultrassom, colooscopia, endoscopia, mamografia, biópsia guiada por ultrassom;
- serviço de diagnóstico clínico e patologia clínica;
- serviço de oncologia clínica e cirúrgica;
- comissões CCIH (Comissão Central de Infecção Hospitalar), notificação de doenças e combate a incêndios;
- central de esterilização de materiais;
- central de combate a incêndios;
- central de oxigênio;
- central de vácuo;
- central de compressor de ar;
- central de energia equipada com gerador;
- equipamentos para atendimento domiciliar, como camas, concentradores de oxigênio, cadeiras de rodas, assentos, etc;
- veículos de apoio e ambulância;
- inúmeros voluntários, que lutam pela AVCC diuturnamente.