Uma cirurgia pioneira na região de Fernandópolis foi realizada na última terça-feira, 12, na Santa Casa de Misericórdia. O cirurgião cardiovascular João Carlos Leal, da equipe do médico Domingo Braile, da Beneficência Portuguesa de Rio Preto, operou com sucesso Antonio Ferreira do Prado, de 43 anos, morador do bairro Palma Mininel, em Fernandópolis.
O paciente tinha um defeito congênito: uma comunicação interatrial (abertura que permite a passagem do sangue do átrio esquerdo para o átrio direito). A cirurgia solucionou o problema. O procedimento é feito “a peito aberto”, com ação extracorpórea. Médicos e diretores do hospital comemoraram o resultado, depois de grandes investimentos que a Santa Casa fez para dotar a instituição dos equipamentos necessários a procedimentos dessa natureza.
A Santa Casa e a equipe do cirurgião João Carlos Leal firmaram parceria para a realização de cirurgias cardiovasculares no hospital de Fernandópolis, a princípio com a atuação da equipe do grupo de Rio Preto. Além da perspectiva de se tornar centro de referência na área de cardiologia, a novidade deverá beneficiar também os alunos de medicina e cursos paramédicos, em termos de aprendizado.
O médico Valter Luís Pereira Junior afirmou que “o João (Leal) é hoje o grande nome da cirurgia cardíaca no Brasil”. Poucas horas após a cirurgia, o paciente acordou e apresentou quadro bastante positivo.
Em entrevista exclusiva a CIDADÃO, Leal se declarou emocionado: “Quando passava por Fernandópolis, indo ou voltando do Mato Grosso do Sul, nos meus tempos de estudante (ele é de Cassilândia), jamais poderia imaginar que um dia faria a primeira cirurgia cardíaca de Fernandópolis”, afirmou. (Leia entrevista na coluna Observatório).
Hospital investiu R$ 240 mil em equipamentos
O provedor da Santa Casa de Fernandópolis, Diomar Pedro Durval, convocou a imprensa na manhã de quinta-feira para entrevista coletiva, ocasião em que anunciou a realização da primeira cirurgia cardíaca em Fernandópolis.
Diomar explicou que o paciente morador do Palma Mininel, que estava com indicação cirúrgica, teria que esperar cerca de dois anos na fila do SUS. Entretanto, um grupo de empresários de Fernandópolis se cotizou para bancar os custos do procedimento – cerca de R$ 30 mil – e o paciente pôde ser operado.
A Santa Casa investiu, segundo ele, cerca de R$ 240 mil em equipamentos necessários à realização de procedimentos dessa natureza. O provedor aplaudiu a parceria com a equipe do cirurgião Domingo Braile, da Beneficência Portuguesa, “que só se viabilizou pelo esforço dos médicos de Fernandópolis”.
Valter Luís Pereira Junior, cardiologista, afirmou que “é uma data histórica, que significa muito para nós”, e falou dos benefícios para a sociedade que devem advir desse acontecimento. Pereira Junior declarou que a luta, agora, é para conseguir o credenciamento do hospital junto ao SUS. “A sociedade de Fernandópolis deve se unir em torno dessa causa, independente de cor partidária”, declarou.
O também cardiologista Luiz Flávio Franqueiro discorreu sobre a importância do feito e comentou que, ainda na quarta-feira, durante consulta de uma paciente com indicação de cirurgia cardíaca, percebeu que agora o encaminhamento (antes feito quase que na totalidade para São José do Rio Preto) “tem uma nova opção”.
O encontro foi encerrado com as palavras do ex-provedor da Santa Casa, o empresário José Sequini Junior: “Vencemos uma montanha”.
Um pioneiro chamado Domingo Braile
(V.R.)
Logo após o final da cirurgia – e uma rápida refeição – o médico João Carlos Leal concedeu a entrevista exclusiva da coluna Observatório desta edição. Como qualquer discípulo de Domingo Braile, Leal não se cansa de citar a importância do mestre para a sua carreira em particular e a cirurgia cardiovascular no noroeste paulista em geral.
Leal foi além: ligou para o celular de Braile, que estava em São Paulo, contou o resultado da cirurgia e me passou o telefone. Por cerca de dez minutos, conversei com um homem sereno, gentil e profundamente apaixonado pela profissão.
Aos 73 anos, o médico que abriu mão do prestígio de pertencer à equipe de Euríclides de Jesus Zerbini, o responsável pelo primeiro transplante de coração no Brasil, para revolucionar a medicina de Rio Preto – hoje, um dos centros de referência cardiovascular do país – ainda tem nas veias a paixão pela profissão.
Ele contou que conheceu Fernandópolis “ainda pequena”, e propugnou o crescimento conjunto do noroeste paulista: “Somos todos da região, produtos da casa; este é o meu orgulho”, afirmou.
Braile declarou que “a Santa Casa de Fernandópolis é um hospital muito bom” e que “o sucesso dessa cirurgia é a demonstração de que podemos fazer bem feito. Temos que fazer do nosso interior um bom local para se viver, com esperança e dignidade”, prognosticou o velho mestre.
Sobre João Carlos Leal, seu jovem discípulo, Braile não poderia ser mais contundente: “Se eu tivesse que ser operado, gostaria que o cirurgião fosse o João”.
Três dias depois – precisamente ontem pela manhã – ao ver o paciente Antonio Ferreira do Prado com ótimo estado de espírito; ao ouvir os agradecimentos de sua esposa, Marli, com quem Antonio tem dois filhos: Mateus, de 15, e Lorena, de 6; e ao sentir a felicidade do casal, pude compreender toda a dimensão da obra desse grande cardiologista brasileiro chamado Domingo Braile.