Nos idos dos anos 70, corria pela região uma piada que incomodava e inquietava os fernandopolenses. Dizia que, certa vez, os prefeitos de Jales, Votuporanga e Fernandópolis foram a São Paulo conversar com o governador.
Como havia muita gente para ser atendida, o governador atendeu aos três de uma vez só. Primeiro falou o prefeito de Jales: Quero uma faculdade de Letras. Pedido atendido, disse o governador. Aí foi a vez do prefeito de Votuporanga: Quero uma faculdade de Administração. O governador concordou. Finalmente, chegou a vez do prefeito de Fernandópolis. Do que o senhor precisa?, perguntou o chefe do Executivo estadual. Preciso de dois ônibus, pra levar estudantes às faculdades deles...
De certa forma, a piada poderia ser exumada e adequada à atual realidade da saúde pública. As duas cidades vizinhas conseguiram junto ao governo estadual os seus Ambulatórios Médicos de Especialidades AME -, para onde convergem os pacientes da região. Os de Fernandópolis vão para Votuporanga.
Inaugurado no dia 7 de dezembro de 2007, o AME de Votuporanga atende a cerca de 800 pessoas por dia, o que significa aproximadamente 14 mil pacientes e 22 mil exames ao mês. O Estado investiu R$ 3 milhões na implantação do ambulatório, em reforma geral do prédio, adequações e compra de equipamentos.
Além de oferecer atendimento para a população de 31 municípios o que equivale a 300 mil pessoas - o AME gera empregos para 77 médicos em 31 especialidades, e conta com 220 funcionários diretos e centenas de outros indiretos.
O ambulatório dispõe de modernos equipamentos que permitem ao paciente passar por consultas e exames. O ambulatório de Votuporanga oferece mais de 20 tipos de exames, como patologia clínica, anátomo-patológico, audiometria, eletrocardiograma, ecocardiograma, holter, teste ergométrico, raio-x, ultrassom, mamografia, densitometria óssea, tomografia, ressonância magnética, eletroneuromiografia, espirometria, colposcopia, nasofibrolaringoscopia, endoscopia digestiva, colonoscopia, broncoscopia, retossigmoidoscopia, medicina nuclear, hemodinâmica e radiologia intervencionista.
Além disso, os pacientes podem contar com exames de alta precisão de imagem, com serviços terceirizados junto à Santa Casa, de ressonância magnética, hemodinâmica, tomografia e medicina nuclear.
Fernandópolis
Diariamente, pacientes de Fernandópolis se dirigem a Votuporanga para consultas e realização de exames.
A prefeitura disponibiliza transporte em dois horários um de manhã, que sai às 6h, e outro à tarde, com horário de saída às 13h, em frente à Diretoria de Saúde do município. Em alguns casos chega a fazer mais de três viagens por período para atender à demanda.
Quem tem consulta marcada no período da manhã entra no ônibus às 6 horas e só retorna a Fernandópolis ao meio-dia. Quem agenda a consulta para o período da tarde corre o risco de voltar para casa só às 19 horas.
No dia em que a reportagem do CIDADÃO esteve na Central de Saúde (a última quarta-feira), o ônibus que levou os pacientes foi um veículo do Departamento de Obras. Na maioria das vezes, é o microônibus da prefeitura que faz as viagens.
Dona Valdenice da Silva viaja sempre para Votuporanga através da prefeitura. Sempre como acompanhante, leva o marido, vizinhos ou amigas para as consultas ou realização de exames. Dessa vez, ela acompanhava Alice Rosa, que faz tratamento do ouvido. A consulta da paciente estava marcada para as 13h30, mas sem previsão de horário de volta - já que é preciso esperar o atendimento de todos os passageiros do ônibus para o retorno, que costuma durar até as 19horas, quando o ambulatório encerra as atividades.
Para Valdenice, seria ótimo se houvesse o AME em Fernandópolis, isso evitaria transtornos e tudo aconteceria mais depressa. Ela também elogia o tratamento oferecido aos pacientes no ambulatório: lá o tratamento é excelente, eles são atenciosos e muito educados.
Economia
O comércio de Votuporanga foi otimizado pelo advento do AME. Como são raros os pacientes que chegam à cidade sem pelo menos um acompanhante, estima-se que pelo menos 30 mil pessoas passem pela cidade nos 22 dias úteis (em média) do mês.
Pacientes e acompanhantes comem, bebem, abastecem, compram jornais, aviam receitas nas farmácias. Não há ainda dados suficientes para quantificar o valor injetado mensalmente na economia da cidade, mas os comerciantes são unânimes em afirmar que o ambulatório revigorou os negócios. A assessoria do AME não quis informar o número de pacientes de Fernandópolis que a cada mês são atendidos na cidade vizinha, sob a alegação de que isso só poderia ser feito com autorização do governo do Estado.