Quando o assunto é a falta de cuidados com a saúde, muitos motoristas, principalmente os da estrada, têm a resposta na ponta da língua: dizem não ter tempo para visitar o médico e fazer exames preventivos. Porém, da mesma forma que um caminhão sem manutenção tem as suas funções reduzidas, um corpo mal cuidado não funciona bem e fica vulnerável a desenvolver doenças como pressão alta, infarto, obesidade e colesterol, males que podem comprometer uma direção segura e antecipar a aposentadoria do profissional.
Para Ricardo Godoy, médico responsável pelo programa Estrada para a Saúde, da CCR AutoBan, é nítido o aumento da conscientização dos carreteiros em relação à saúde e uma melhora da autoestima através de cuidados com a aparência. "Estamos no caminho certo e atingindo os objetivos da ação, que é acompanhar os riscos a que estes profissionais estão expostos, por passarem dias dirigindo e sem tempo de cuidar de sua saúde. Essas melhorias que proporcionamos aos motoristas contribuem significativamente para diminuir os riscos de acidentes nas estradas", afirma.
Godoy alerta que o condutor que não cuida da saúde tem grande potencial para colocar em risco sua segurança e a de outros motoristas nas estradas. A saúde é o elemento essencial na direção veicular e prevenir certas doenças é fundamental para se ter uma vida longa e saudável. "Avaliar a qualidade de vida desses profissionais e orientá-los a procurar atendimento médico constante é uma maneira de prevenir acidentes. A pressão arterial alta, o nível de glicose alterado e uma baixa acuidade visual, por exemplo, afetam diretamente as condições necessárias para uma boa conduta no trânsito", complementa.
Para o chefe do departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional e Diretor de Comunicação da Abramet - Associação Brasileira de Medicina de Tráfego-, Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior, ser motorista profissional exige bom preparo, condicionamento físico e também alimentação saudável rica em legumes, verduras, frutas, leite, ovos e carnes brancas, preferencialmente. Frituras, gorduras, condimentos, excesso de carboidratos devem ser deixados de lado. "O excesso de horas trabalhadas expõe o organismo a várias situações de agressão, por isso recomendo cuidar previamente da saúde. Estou convicto que dessa forma todos terão uma direção mais segura", comenta.
Atualmente, conforme explica Dr. Dirceu, a preocupação do médico não é mais tratar a doença e sim impedir que ela apareça, ou seja, medicina preventiva, com recomendação de exames periódicos - pelo menos anual - mesmo que não existam queixas, sinais ou sintomas. "Doenças primarias familiares, como hipertensão arterial, diabetes, obesidade, distúrbio do sono e qualquer sinal ou sintoma, deve obrigatoriamente ser acompanhada pelo profissional da saúde. Jamais deixar a coisa evoluir para depois procurar recursos", alerta.
Motorista que não consome substâncias que podem levá-lo ao "apagão" e dirige descansado e sem sono corre menos risco de se envolver em acidente nas rodovias
Para minimizar as agressões inerentes ao trabalho é importante o carreteiro reduzir a jornada de trabalho, sair do sedentarismo, evitar erros alimentares e corrigir hábitos como fumar e beber. "O sono, por exemplo, é uma necessidade, e dormir pelo menos oito horas por noite é importante. Durante o sono reduzimos o nosso processo de envelhecimento, reequilibramos nosso sistema imunológico e melhoramos a condução dos estímulos que recebemos, temos também melhorado nossos reflexos, nossa vigília, atenção, concentração e tudo aquilo que dissemos no início, explica."
Apesar dos perigos, muitos motoristas ainda optam em utilizar drogas para cumprir os horários de entrega e até mesmo se manterem mais dispostos ao invés de uma boa noite de sono. Para esse grupo de condutores, Dr. Dirceu alerta que substâncias como anfetamina, crack, maconha e cocaína, causam dependência e são capazes de levar o motorista ao "apagão", isto é, num determinado momento todos os sentidos são subitamente abolidos, o que pode provocar acidente gravíssimo. "Tais substâncias alteram a visão, provocam visão dupla, aversão à luz e geram alucinações auditivas e visuais. Lembro que de 40 a 70% das fatalidades em nossas rodovias estão relacionadas ao álcool e a essas drogas", destaca.